Se você segurar um copo de água por um minuto, estará tudo bem. Se o segurar por uma hora, terá dor no braço. Se for o dia inteiro, terá que chamar uma ambulância. O copo tem o mesmo peso, mas quanto mais tempo passa segurando-o, mais pesado ele vai ficando. Assim é com as prestações. No início tudo bem, mas com o tempo!?! E mais cedo ou mais tarde não será mais capaz de continuar. O peso das prestações na sua vida vai se tornando crescentemente mais insuportável.
As prestações vem a calhar nesse mundo onde as pessoas não querem esperar o momento adequado para possuírem coisas. Acham difícil juntar dinheiro todo mês, por faltar disciplina e persistência. Uns dizem que o “dinheiro na mão é vendaval”, outros afirmam que “quem não faz dívidas não progride” e então acabam fazendo prestações.
Na verdade, querem antecipar o futuro. Desejam ter o poder de Deus e trazer para hoje aquilo que somente poderiam obter daqui a alguns anos. Não sabem esperar, juntar e comprar. Tem de ser hoje. Então entram na loja compram, assinam uns papéis e saem sorrindo, “felizes”. Sem perceberem que no fundo algo incomoda. Um gosto amargo, imperceptível às vezes, mas duradouro, permanente. Não conseguimos enganar a nossa consciência, ela sabe que estamos pagando duas ou mais vezes para obter o mesmo objeto.
Vamos fazer algumas contas. Se para comprar um carro você pode pagar uma prestação de dois mil reais em 48 meses, vai desembolsar noventa e seis mil reais. Considerando uma taxa de financiamento em torno de 1,8%, adquirirá um automóvel de sessenta e quatro mil reais. Levando-se em conta que você pode comprar um carro com um ano de uso, podemos depreciar mais 20% e o valor cai para cinqüenta e um mil e duzentos reais.
Você precisa de 23 meses, investindo dois mil reais por mês, para comprar o carro seminovo. E aplicando mais 25 meses os mesmos dois mil reais, para chegar aos 48 meses indicados no financiamento, conseguirá acumular mais 63 mil reais. Ou seja, após repetir isso por 10 vezes terá no final algo em torno de um milhão de reais.
Agora vamos escolher entre: Carro zero km, financiado em 48 meses. Carro seminovo à vista. Consideremos que vai trocar de carro a cada quatro anos e fazendo isso dez vezes. Quanto você vai desembolsar no fim? Na opção 1 você terá no final desembolsado novecentos e sessenta mil reais. Na opção 2 você terá desembolsado quinhentos e quarenta e dois mil reais a valor presente.
Vamos aprofundar mais a análise. Suponhamos que você tenha dinheiro para comprar a vista. Em vez de comprar um carro zero a cada quatro anos, compre um carro de um ano de uso. Invista a diferença em ações. Repita isso por 10 vezes e terá no final descontado o imposto de renda e a inflação, algo em torno de um milhão de reais ou mais. Se lhe perguntarem como você ficou milionário, diga-lhes que foi com carros usados.
Os jovens, em pleno vigor de sua juventude, preferem viver “intensamente” o dia de hoje em vez de programar-se adequadamente para o futuro. A importância de estabelecer metas significativas e manter-se atrelado a elas permitirá uma carreira mais promissora. Mantendo uma visão clara das coisas e de vez em quando se perguntando: Quanto os outros “tomam” de nós pelo que desconhecemos? Pense nisso, mas pense agora!
Saulo Gouveia é consultor financeiro e organizacional e atua oferecendo novos significados para viver as virtudes em abundância. Articulista de A Gazeta, escreve neste espaço aos domingos. saulocarvalho@seubolso.com.br ou www.seubolso.com.br.