Era uma vez um mestre caminhando com seu discípulo. Viram uma raposa que perseguia um coelho. O mestre então disse: – O coelho sempre escapa da raposa. – Não acho, a raposa é mais rápida – respondeu o discípulo.
– Mas o coelho vai enganá-la. Insistiu o mestre
– Por que o senhor tem tanta certeza? Perguntou o aprendiz.
– Porque a raposa corre pela sua refeição e o coelho pela sua vida.
E você, amigo leitor, está correndo pela refeição ou pela vida? Qual é a pressa?
Neste momento milhares de pessoas se digladiam em busca de objetivos sem sentido. Apenas por automatismos adquiridos na onda do “faça já e seja feliz”. Essa pressa não levará ninguém à felicidade plena, apenas dará a ilusão de que conseguindo coisas serão ditosos. Basta ver quantas pessoas são ricas financeiramente, mas estão pobres de saúde, tanto do corpo como mental.
Existe um movimento na Europa chamado de Slow Food, que é um contraponto ao Fast food. Esse movimento tem objetivo de mudar hábitos para uma vida mais saudável. Pregam a vida sem-pressa.
Viver sem pressa no convívio familiar, com os amigos, no trabalho ou em qualquer lugar. Sem pressa para comer e beber, “sentindo” os alimentos e aproveitando inclusive o seu preparo.
Mas, essa “atitude sem pressa” não significa fazer menos, nem ter menor produtividade. A sabedoria está em separar o que é inútil para viver e centrar foco no que é útil. Assim naturalmente sobra mais tempo e qualidade, resultando em fazer mais com menos.
Se nos preocuparmos somente com os resultados que queremos deixamos de dar atenção à ação em si. Precisamos aprender a aproveitar não somente os frutos, mas também a semeadura. Sentir prazer na prática, no caminhar além da chegada. Ver as paisagens e curtir as curvas da estrada. Não é ser feliz somente na estação final da viagem, mas em toda ela.
O “como” é sempre tão importante como o “o que” estamos fazendo, para a alegria, a serenidade e a leveza ser parte da ação. A consciência do momento presente trará sentido de qualidade, zelo e amor, mesmo nas mais simples atividades.
Precisamos repensar os próprios valores, o sentido que tem para nós a família e os amigos. O tempo no lazer, no trabalho e na religião. Sentir o bem, o bom e o belo através da cultura e da arte.
Em muitos casos somos causadores de nossos próprios infortúnios e às vezes em vez de reconhecê-los, por vaidade, preferimos acusar a sorte ou Deus.
Os acontecimentos fervilham à nossa volta com incrível rapidez. Todos os dias lidamos com uma dezena de dilemas morais capazes de perturbar a mente. Temos pouquíssimos minutos para meditar sobre uma questão antes que a próxima se apresente. Qual o significado desses acontecimentos? Será que essas decisões são tomadas à luz da sabedoria? Será que estamos correndo pelas coisas, refeições somente ou por nossa vida? Pense nisso, mas pense agora.
Saulo Gouveia é consultor financeiro e organizacional e atua oferecendo novos significados para viver as virtudes em abundância. Articulista de A Gazeta, escreve neste espaço aos domingos. saulogouveia@seubolso.com.br ou www.seubolso.com.br