Parte 1 – Um mestre foi perguntado por seu discípulo sobre a real importância das coisas. Ao invés de responder-lhe, pediu ao discípulo que pegasse um vaso e colocasse algumas pedras grandes dentro dele. Assim feito, o mestre perguntou ao discípulo: – O vaso está cheio? – sim.
Então, o mestre pediu que ele colocasse um monte de pedregulhos dentro do mesmo vaso. – E agora, está cheio? – Sim. Novamente o mestre pediu que colocasse areia dentro do vaso. – E agora, está cheio? – Sim.
Então, o mestre pediu que colocasse água dentro do vaso. Nesse ponto o discípulo disse: – Entendi mestre. A real importância das coisas está na forma que as armazenamos. Respondeu o mestre: – Não. O vaso só pode ser cheio dessa forma porque as grandes coisas foram colocadas primeiro, depois as menores, e assim por diante.
De tal modo também é a vida. Priorize sua vida com as coisas que realmente são importantes, como a sua família, seus amigos e o seu desenvolvimento; depois priorize as menores. Se você tivesse começado a encher o vaso com pedregulhos, as pedras grandes jamais caberiam nele. Assim também, se você se ocupar apenas com as coisas pequenas, as grandes não terão espaço.
A tecnologia trouxe o acesso às informações em velocidade de fórmula 1, facultou a conectividade instantânea e permitiu a produtividade com rapidez. Porém, estamos sendo convidados a saber lidar com ela para não submergir as tentações das distrações e vivermos na superficialidade, jogando fora o precioso tempo ampliado.
A tentação inicia desde o momento que acordamos de manhã. O companheiro inseparável do criado mudo ao lado da cama já convida a ver mensagens, ler e-mails, passear pelas mídias sociais e iniciar o que será a primeira de inúmeras interações diárias com o nosso dispositivo móvel, engajados em uma cascata de redes sociais, conversas e ruído digital.
São as novas barreiras da produtividade, do trabalho profícuo e da vida em abundância.
O empenho agora é pela atenção focada, diante da escassez da atenção humana, “uma mercadoria” em falta nas “prateleiras” dos corações. Perde-se o foco mais rápido do que um peixe de aquário indo e vindo o tempo todo.
São hoje, dias de “barulho social”, com o tempo sendo consumido navegando na internet. Acrescenta-se a isso as horas intermináveis na frente da televisão e desta para os smartphones, estes “conectores” com o mundo.
Devemos compreender a importância do trabalho focado para a solução em um mundo disperso. Aprender como nos distanciar das distrações constantes e melhorar o gerenciamento do que fazemos dentro do tempo, mergulhando mais nos nossos pensamentos, percebendo com profundidade os nossos sentimentos e direcionando a nossa vontade com vigor para sermos soberanos de nós mesmos.
Uma maquina pode executar o trabalho de muitas pessoas comuns. Porém, máquina nenhuma pode realizar o trabalho de uma pessoa incomum. Pense nisso, mas pense agora!
Parte 2 – Um dia, passeando pela praia, o pai perguntou ao filho: – Como está a água? O garoto entrou com cuidado na água e respondeu: – Está muito fria.
Ele pegou o garoto, jogou-o dentro da água e voltou a perguntar; – E agora, como está a água? O filho respondeu: – Está ótima. O pai disse: – De agora em diante, mergulhe fundo naquilo que você quer realmente conhecer.
Para conviver com as mídias sociais, instrumentos ricos em oportunidades de conexão, aproximando as pessoas ao romper as distancias e gerar agilidade nas decisões, devemos compreender o medo irracional de ficar por fora das novidades. Temos o direito de não saber o que não é importante para a vida de cada um naquilo que escolhe profissionalmente e pessoalmente como essencial.
As técnicas utilizadas pelas empresas construtoras das mídias sociais, que são parecidas com uma máquina de caça níquel, visam recompensar a gente com curtidas, corações, comentários, compartilhamentos, os quais tomam o tempo, despedaçando o dia em vários mini blocos fúteis. Acrescente a isso as interrupções existentes nos escritórios compartilhados e abertos com colegas passando por nós o tempo todo.
A perda real é muito grande toda vez que damos uma olhadela no WhatsApp ou Facebook, pois a mente para concentrar novamente leva em torno de 15 minutos ou mais.
Para onde vamos então, com isso? Para as angustias pelo que “devia ter sido e não foi” e para as ansiedades do “deverá ser e tenho medo de não ser”. Assim chegam as doenças, minando a saúde física e mental.
Se observarmos o impacto cognitivo do exagero das mídias sociais e das distrações no trabalho, iremos removê-las para ir além do trabalho raso e alcançarmos níveis de produtividade em eficiência pela qualidade e eficácia das escolhas essenciais do que produzir de significativo para a vida ecológica.
Quando passamos grande parte do nosso dia em um estado de atenção fragmentada pelas interrupções constantes, perdemos a capacidade de concentração e a alma fica fragilizada.
Quando decidirmos e agirmos para criar e defender os espaços de momentos de solitude, alçaremos a condição de concentração mental e a alma permanecerá alerta.
Dentro do tempo existe um mar de conteúdos valorosos que podem ser perdidos pelas nuvens dos conceitos limitantes. Voe pelas águas da convicção na transparência dos esforços que é capaz e colha os frutos preciosos. Pense nisso, mas pense agora!
Parte 3 – Um aprendiz, na esperança de impressionar bem o seu mestre, leu alguns manuais de magia e resolveu comprar os materiais indicados nos texto. Incenso, talismãs, uma estrutura de madeira com caracteres sagrados escritos.
Vendo isso, o mestre comentou: – Você acredita que, enrolando fios de computador no pescoço, conseguirá ter a agilidade da máquina? Os objetos podem ser seus aliados, mas não contêm, neles mesmos, qualquer tipo de conhecimento e sabedoria. Pratique primeiro a disciplina, o estudo e a meditação, e tudo o mais lhe será acrescentado.
Sejamos nós aqueles comprometidos em defender o nosso tempo dedicado à concentração, livres das distrações que impulsionam a nossa exigência cognitiva aos limites do exagero.
Esse deverá ser um tempo para organizar os pensamentos, ler, escrever e permitir ir além do intelecto, pela intuição conectada com as leis universais em profunda conexão com a essência da vida. É quando somos capazes de criar aquilo que nunca imaginamos que teríamos habilidade.
Nos primeiros minutos o estudo concentrado permitirá a produção ainda no nível intelectivo, do pensamento. Com a persistência, sem pressa e sem pressão, aprofundará para níveis significativos, com habilidades reflexivas, meditativas e intuitivas.
Um exemplo foi Carl Gustav Jung, aquele que desenvolveu os conceitos da personalidade extrovertida e introvertida, consciente e dedicado em permitir os momentos cada vez mais longos para refletir, pensar e escrever, ao construir uma casa de pedra na Suíça como o seu refúgio. Ali muito se gerou de trabalho RARO para toda a Humanidade.
O trabalho expressivo será os benefícios resultantes das pessoas que planejam, investem e defendem espaços e tempos para uma vida meditativa, voltada para o silêncio interior, para a quietude mental.
Aproveite as potencialidades que têm dentro de si a partir das possibilidades geradas pelas suas habilidades. Pense nisso, mas pense agora!
Parte 4 – Uma nova economia recompensará os resultados alcançados e não o tempo gasto. A moeda é o trabalho RARO e valioso. E isso não é fruto das máquinas e sim da capacidade criativa do ser humano.
O trabalho profundo é uma ferramenta que você precisa para construir e produzir coisas como um artesão. Pense no tempo dedicado por Michelangelo, pintor, arquiteto, poeta e escultor, na sua produção da Capela Sistina, que foi um dos marcos do Renascimento, suas figuras são o símbolo supremo da perfeição dos corpos fortes, belos e majestosos. Ou como um carpinteiro mestre usa a arte e a habilidade para criar móveis dignos de serem exibidos em um museu.
Pense em como Olavo Bilac gerou o seu poema “A um poeta”. “Longe do estéril turbilhão da rua, / Beneditino escreve! No aconchego / Do claustro, na paciência e no sossego, / Trabalha e teima, e lima, e sofre, e sua! / Mas que na forma se disfarce o emprego / Do esforço: e trama viva se construa / De tal modo, que a imagem fique nua / Rica mas sóbria, como um templo grego / Não se mostre na fábrica o suplicio / Do mestre. E natural, o efeito agrade / Sem lembrar os andaimes do edifício: / Porque a Beleza, gêmea da Verdade / Arte pura, inimiga do artifício, / É a força e a graça na simplicidade.” (1-14).
Há uma gigantesca vantagem competitiva por conta da habilidade de se concentrar e produzir algo RARO e precioso na era da informação. Pode ser em qualquer profissão, dos acadêmicos aos programadores de computadores, dos cirurgiões aos designers visuais, o que importa é a atenção focada.
Se você consegue escrever um artigo elegante, produzir um diagnóstico preciso, ser um terapeuta que transcende o trivial para o transpessoal, ser um administrador da saúde relacional, ser arquiteto da natureza ecológica, ser um redator da vida, os seus resultados são RAROS e valiosíssimos, por consequência, as pessoas chegarão até você, independentemente de quantos seguidores no Instagram consiga ter.
Assim direis ou como Olavo Bilac “esculpiu” o seu “Ora (direis) ouvir estrelas”: “Ora (direis) ouvir estrelas! Certo / Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto / Que, para ouvi-Ias, muita vez desperto / E abro as janelas, pálido de espanto… / E conversamos toda a noite, enquanto / A via láctea, como um pálio aberto, / Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, / Inda as procuro pelo céu deserto. / Direis agora: “Tresloucado amigo! / Que conversas com elas? Que sentido / Tem o que dizem, quando estão contigo?” / E eu vos direi: “Amai para entendê-las! / Pois só quem ama pode ter ouvido / Capaz de ouvir e de entender estrelas.” (1-14). Pense nisso, mas pense agora!
Parte 5 – Meditemos no trabalho RARO de Olavo Bilac quando criou o “Hino à bandeira”: “Salve lindo pendão da esperança! / Salve símbolo augusto da paz! / Tua nobre presença à lembrança / A grandeza da Pátria nos traz. Recebe o afeto que se encerra / em nosso peito juvenil, / Querido símbolo da terra, / Da amada terra do Brasil! / Em teu seio formoso retratas / Este céu de puríssimo azul, / A verdura sem par destas matas, / E o esplendor do Cruzeiro do Sul. Recebe o afeto que se encerra / Em nosso peito juvenil, / Querido símbolo da terra, / Da amada terra do Brasil! ” (1-14).
Inspira-nos Olavo a desfrutar do trabalho criativo, meditativo, que instiga pensamentos valorosos, apesar de ser comum pensar-se ser maçante, desgastante e exaustivo. É verdade que os frutos são advindos da intensidade e não de várias horas enfadonhas.
Fomos adestrados para ver, participar e responder tudo porque, assim, parece que estamos realizando algo, quando na verdade estamos repetindo práticas e produzindo muito pouco. Portanto, deixar de ser um “roteador humano” e cortar o trabalho raso é a melhor experiência, fortalecida e bem dirigida pela vontade vigorosa, a perseverança e a capacidade de escolher novas formas de agir. Para buscar esse objetivo nobre e ganhar habilidade na criação do RARO, vejamos algumas iniciativas facilitadoras.
Escolha sentar-se em um local aconchegante, isolado e ficar mentalmente quieto para pensar, refletir, intuir e gestar inovação. Trabalhar no nível reflexivo e intuitivo vai necessitar de paciência e prática, porém a persistência tornará agradável e confortável.
Experimente sentar quieto e não fazer nada, offline/sem conexão, durante meia hora, e aos poucos aumente até chegar a uma hora ou mais. Esse treinamento mental passa pela observação em si mesmo de quanto tempo você resistirá até os estímulos sociais ou sinais de seu celular se tornem gigantes a sua frente. Pode deixar do lado, papel e lápis, para notações caso “apareça” algo na mente e que você queira resolver depois.
Busque planejar os horários de trabalho profundo na sua agenda semanal, mensal e anual. A partir de blocos de tempo, que são períodos de duas ou mais horas, ou matutino/vespertino, ou um/dois dias, ou uma/duas semanas, ou o mês inteiro se possível isso for.
Desative todas as notificações da agenda, emails, WhatsApp e outros, e tranquilize-se ao olhar de tempo em tempo para eles conforme a sua necessidade. Você é capaz de saber se deve verificar a cada hora ou a cada dia, isso é de seu domínio para parar de nadar contra a corrente.
Proteja o seu tempo offline/sem conexão com rituais e rotinas para facilitar a adaptação do trabalho profundo ao seu dia a dia. A sua vida pessoal, social, profissional serão abundantes de riquezas e de interações profícuas quando for capaz de gerar “detox” digital ao restringir as mídias sociais para acesso de tempo em tempo, talvez uma vez por semana. Sem extremos, nem precisa cortar o cordão umbilical completamente e nem conectar-se o tempo todo.
Termina Olavo a maestria do RARO e PROFUNDO no seu “Hino à bandeira”: “Contemplando o teu vulto sagrado, / Compreendemos o nosso dever, / E o Brasil por seus filhos amados, / poderoso e feliz há de ser! Recebe o afeto que se encerra / Em nosso peito juvenil, / Querido símbolo da terra, / Da amada terra do Brasil! / Sobre a imensa Nação Brasileira, Nos momentos de festa ou de dor, / Paira sempre sagrada bandeira / Pavilhão da justiça e do amor! / Recebe o afeto que se encerra / Em nosso peito juvenil, / Querido símbolo da terra, / Da amada terra do Brasil! ” (15-29). Pense nisso, mas pense agora!
Saulo Gouveia é consultor financeiro e organizacional, atuando para oferecer novos significados para viver as virtudes em abundância. Articulista de A Gazeta, escreve neste espaço aos domingos. saulogouveia@seubolso.com.br ou www.seubolso.com.br