Era festa no reinado e todos foram convidados, e a prova que mais exigia força e coragem era a “escalada ao poste”, onde no topo estava o prêmio: uma cesta cheia de comida e ouro, muito ouro. O primeiro a participar foi um rapaz alto e forte, que não conseguiu atingir nem a metade. Mal havia descido e já blasfemava contra o rei. – Esse rei está louco, resmungou, colocou o prêmio bem alto justamente para ninguém conseguir apanhá-lo. O rei está gozando de nossa cara, sugiro que todos parem de participar, assim ele terá de diminuir o tamanho do mastro. Foi assim que alguns súditos se decepcionaram tanto com o rei que começaram a ir embora com a cabeça baixa e choramingando, enquanto outros proferiam palavras de desapontamento.
Naquele instante, apareceu um rapaz bem magrinho, que tomando boa distância, e, correndo como vento, subiu no mastro. Mas na primeira vez não obteve êxito. Quando se preparava para segunda tentativa, as pessoas gritavam: – Desiste, desiste, o rei está nos enganando. Mesmo assim o garoto encheu o peito de ar, respirou fundo, fechou os olhos por um momento e saiu na disparada. Como um raio veloz e forte atingiu o topo do poste, conseguindo a cesta com o precioso prêmio. Todos ficaram admirados, uns aplaudiram, outros comentavam sobre a proeza do rapaz, e já diziam que o rei era nobre e sábio.
Sair do negativo é possível para os que estão dispostos a tentar com a tenacidade do garoto. Primeiro é preciso deixar de pôr a culpa nos outros ou no rei (governo) e agir. Para agir é preciso querer, pois as ações dependem muito mais da vontade do que da inteligência. É possível saber o que fazer, ter conhecimento, mas se sem vontade nada se consegue e a lugar algum se chega.
Depois faça o orçamento doméstico, comparando as entradas e saídas pelo montante anual, anote tudo por categoria e por grupo. Um exemplo é a troca de uma lâmpada de sua casa, lance na categoria “Manutenção e no grupo Despesas do Lar”. Também separe as despesas domésticas das dívidas, para saber o quanto precisa para viver e o que é fruto de compromissos assumidos no passado.
Analise a possibilidade de aumentar a renda. Ou corte despesas, começando pelas que são passíveis de variação, como roupas ou lazer. Uma forma de fazê-lo sem gerar sentimentos de perda é reduzir sem eliminar. Veja um exemplo: se você almoça todo domingo com a família na churrascaria, continue com esse hábito; apenas troque três domingos na churrascaria por um restaurante bom e que o valor do almoço fique mais barato. Se não for suficiente, reduza despesas semi-fixas, como supermercado, telefone ou energia. Somente em último caso mexa nas despesas fixas, como mudar de moradia, ou trocar de faculdade.
Lembre-se de evitar o crediário. Se não puder pagar à vista, aguarde o tempo necessário. Também limite todas as facilidades de crédito, pedindo ao banco para cortar o limite do cheque especial, guarde ou cancele o cartão de crédito, e só volte a usá-los depois de o orçamento voltar ao equilíbrio. Além disso, na sua lista de compras separe os bens que você precisa daqueles que você deseja, e faça uma hierarquia para saber o que comprar primeiro. Também considere a possibilidade de adquirir produtos usados, mais baratos.
Dê prioridade à eliminação de dívidas, e vá pagando uma a uma. Primeiro a de juros mais altos, talvez seja possível trocá-la por outra de juros menores. Então lembre-se da fórmula milagrosa, viva com 70% do orçamento, pague as dívidas com 20% e invista 10% em algo que gere renda. Por fim, use o segredo do garoto que venceu a negligência, o medo e o negativismo: ele estava com muita fome e era surdo. Pense nisso, mas pense agora!
Saulo Gouveia é consultor financeiro e organizacional e atua oferecendo novos significados para viver as virtudes em abundância. Articulista de A Gazeta, escreve neste espaço aos domingos. saulocarvalho@seubolso.com.br ou www.seubolso.com.br.