Cláudia estava apaixonada e Clodoaldo era o escolhido para viverem juntos eternamente. Nunca tinha encontrado alguém que preenchesse seus anseios como ele. Já estavam namorando há mais de dois anos e preparavam-se para o casamento tão sonhado.
Desejavam como a maioria dos casais, a casa própria. Teciam várias ideias de como ela seria, janelas grandes, quarto do casal uma bela suíte e os dos futuros rebentos seriam suaves como as plumas.
Primeira providência foi fazer as contas de quanto precisariam para a aquisição. Contas vão, contas vêm, “espreme” de lá, “aperta” de cá e tiveram de rever o sonho. Pois, apesar de mais cinco anos de economia, aplicando em bons investimentos, conseguiriam apenas a metade do valor necessário.
Atualmente suas despesas eram cinemas, passeios, festas, universidade, etc.. Foi preciso fazer mudanças nas atividades de lazer, ficando mais tempo em casa. Mesmo assim era muito tempo de espera para o casal que já não aguentava mais a vontade de juntar os “trapos”.
Foi aí que veio a “brilhante idéia”: Financiamento. Naquela manhã onde o sol convidava à sombra assinaram o contrato com o banco para pagarem dois mil reais por mês. É certo que tiveram de reduzir o tamanho do sonho para um apartamento de 250 mil reais.
Chegou o grande dia, casaram-se e estavam muito felizes. No primeiro mês as contas não “bateram”. Deixa estar, que no segundo tudo se resolve. Mas piorou. O sonho estava virando pesadelo. As despesas agora aumentaram, além da prestação da casa, impostos do imóvel, seguros, condomínio e manutenção.
O pior estava por vir, Clodoaldo foi transferido pela empresa que trabalhava para outra cidade. Aí que o pesadelo virou filme de terror. O que fazer com o apartamento agora? Vender demorava muito e para alugar só conseguiram por 900 reais.
As pessoas gostam de antecipar o futuro, apesar de pagar caro por isso. O amanhã tem o valor dos descontos que conseguimos quando sabemos esperar o momento certo para conquistar nossos sonhos. Trazê-lo para o presente vem em forma de custos adicionais no orçamento. Vem desenhado pelos juros que multiplicam as dívidas em “saltos geométricos”.
O casamento coincide com a primeira fase de vida do casal que estará formando o patrimônio pessoal. Se Cláudia e Clodoaldo tivessem alugado um imóvel pelos 900 reais e aplicado a diferença em um bom investimento, na metade do tempo teriam dinheiro para comprar o apartamento à vista e com desconto.
Vemos muitas pessoas dizendo “o aluguel é como passar a vida toda pagando algo a alguém sem nunca ter nada”, mas a estratégia de alugar e investir a diferença permite comprar o imóvel na metade do tempo financiado. Outras falam que “é melhor pagar um pouco mais e garantir seu imóvel”, esquecendo-se que o apartamento estará valendo bem menos na data da quitação após trinta anos de uso. Além de pagar o valor de três apartamentos.
Alguns insistem que “nada como a casa própria, é uma garantia contra o desemprego”. Aí eu pergunto: o que vale mais? Uma poupança que valha meio apartamento ou um apartamento que valha meia dívida?
Você tem reservas para emergências, seguro de saúde e de vida? Sua família já está definida, quantidade de filhos? Tem profissão segura? Tem aplicações que rendem o valor das parcelas? Então vá em frente e realize o seu sonho de casa própria, pois todos nós merecemos. Pense nisso, mas pense agora!
Saulo Gouveia é consultor financeiro e organizacional e atua oferecendo novos significados para viver as virtudes em abundância. Articulista de A Gazeta, escreve neste espaço aos domingos. saulogouveia@seubolso.com.br ou www.seubolso.com.br.