Conta-nos Wallace Leal a seguinte história: “Quando em pequenos, meu irmão e eu éramos vadios e preguiçosos.
Todo pretexto nos servia para faltarmos com nossos deveres, cabular as aulas e ficar vagabundeando pelos quarteirões da cidade. Certo dia nossa mãe chamou meu irmão e disse: – Meu filho, será que você me poderia fazer um favor? – Pois não, mamãe! – Eu gostaria que você fosse até àquele terreno baldio e viesse me contar o que existe ali. Ele atendeu, foi até ao terreno observou, observou e voltou.
– Mamãe, ali só existem lixo e porcaria. Metais enferrujados, papéis, vidros quebrados, arames, garrafas. Nada que se aproveite. – Mas não haverá uma serventia para aquelas coisas? Perguntou mamãe. – Ah! Mamãe, está claro que
não. Voltando-se para mim ela pediu: – Agora você, meu filho. Vá até o portão do jardim e venha me contar o que existe nos outros terrenos. Obedeci e voltei logo, dizendo: – Nos outros terrenos há casas, pomares e jardins.
– Que coisa! disse mamãe pensativa. Por que será que se acumularam tantas coisas inúteis no terreno baldio? Eu e meu irmão, triunfantes, respondemos quase que ao mesmo tempo: – Ora, mamãe, porque ele está vazio. – Pobre
terreno! Exclamou mamãe, não sendo aproveitado para nada, transformou-se em depósito de lixo. Isso dá o que pensar, pois é como os dias de nossa vida. Se não soubermos aproveitá-los, vão se enchendo de coisas inúteis. Uma vida ociosa é como um terreno baldio: recolhe tudo o que é ruim e imprestável. É por isso que na vida do homem trabalhador, que sabe encher bem os seus dias, não há lugar para os vícios, maldades e enganos de qualquer espécie.”
O seguro-desemprego, pela falta de uma triagem eficaz, facilitou os hábitos dos indolentes e irresponsáveis. É comum ver, após cumprido o prazo para fazer jus ao seguro-desemprego, começar aquele “tô nem aí”. Qualquer coisinha já é motivo para faltar ao trabalho e ficar torcendo para o patrão despedi-lo, o seu principal objetivo. Com exceções é claro. Já vi patrões desiludidos com pessoas que ele considerava com um futuro promissor na empresa e de repente piorou ao ponto de ficar insustentável a permanência dele na função. Certa vez uma empresa suspendeu suas atividades e todos os funcionários ficaram desempregados. Conseguimos uma vaga para o ajudante da logística.
Precisava somente comparecer com a documentação. Sabe o que ele disse? Eu? Perder cinco meses de férias? Nunca. Agora somente no ano que vem volto a trabalhar. Para quem trabalha com serviços básicos, sem muita especialidade, sem necessidade de formação superior, os objetivos de vida não devem ser pequenos, mas tem sido para alguns. Rodeiam essas pessoas os exemplos dos políticos corruptos, governantes inescrupulosos, descompromissados com a sociedade. Então, por que logo eles deveriam ser exemplos? Então, letargicamente se entregam a onda e o seguro desemprego vem a calhar.
Como diz o Wallace da historia: “[…] quando se nos apresenta qualquer oportunidade para a ociosidade, nós lembramos daquele terreno vazio, cheio de papeis velhos, cacos de vidros e lixo. Tudo inaproveitável”. Pense nisso,
mas pense agora!
Saulo Carvalho é consultor financeiro e organizacional e atua oferecendo novos significados para viver as virtudes em abundância. Articulista de A Gazeta, escreve neste espaço aos domingos. saulocarvalho@seubolso.com.br
ou www.seubolso.com.br