Maria começou a chorar ali mesmo, correu para o banheiro do shopping e “desaguou” sua mágoa e desespero. Quanto ainda teria de aturar situações vexatórias como a de não poder acompanhar os amigos num simples lanchinho, porque o dinheiro acabou e está no cheque especial até a “tampa”?
Quantas vezes deixou de sair com as amigas porque ficou com vergonha delas pagarem suas despesas. Será sempre assim? Nunca vai sobrar para o lazer? Para ter coisas que os outros têm?
Naquele dia ela estava desesperada e já não tinha mais forças para lutar contra a “maldade” do sistema capitalista que beneficia pela competência em detrimento da necessidade humana.
Jogou a toalha, não aguentava mais, não queria mais aquela vida, entrou em desespero. O que fazer? Qual eram seus erros, afinal ganhava até bem e não fazia parte dos marginalizados da educação e do trabalho. Tinha carro e casa própria. Quem visse de fora não poderia imaginar e nem perceber o desespero de disfarçar, simular para os outros não notarem.
Quando ela ouviu o meu sincero “isso é fácil de ser solucionado” deu uma gargalhada, mais de desespero do que de alegria. Como pode ser fácil se eu venho tentando a vida toda mudar isso? Toda vez que meu salário aumenta, e olha que teve vez que até dobrou, eu penso que tudo está resolvido, e daqui a pouco estou de novo na mesma situação?
“É fácil, Maria”, repeti! Sua dificuldade está na sua meta diária POBRE. Toda vez que vai deixar de comprar algo, você se pergunta: – Eu deixar de comprar esse objeto, de jeito nenhum? Eu mereço, afinal trabalho tanto para agora não possuir?
Outras vezes você se pergunta: – Vou deixar de fazer esse lanche e economizar para quê, se o meu saldo já está negativo no banco e ainda vou deixar de acompanhar meus amigos? Meus colegas estão lá felizes gastando e eu não posso acompanhar, só porque não tenho dinheiro no banco?
Meta POBRE. Meta de deixar de consumir porque não tem. Meta NOBRE é a solução. Meta de deixar de consumir para investir. Maria, passe a ter a meta NOBRE e terá um motivo feliz para não consumir excessos porque quer algo de MAIOR importância. Quer investir parte de seus ganhos para obter renda extra e no futuro ter liberdade financeira.
A meta NOBRE permite quando os rendimentos aumentarem, “fingir” que não aumentaram e aplicar a diferença. Vale à pena ter bons hábitos para evitar o que a maioria faz: Toda vez que aumenta o salário, aumentam o padrão de vida imediatamente para fazer jus ao novo status.
Bons hábitos têm conseqüências a médio e longo prazo. Então, Maria, busque: Primeiro, somente comprar à vista. Nunca mais faça prestações, pechinche bastante e conquiste um 14º. Salário com os descontos. Segundo, nunca faça empréstimos, nem para pagar contas ou comprar excessos. Terceiro, aprenda toda vez que precisar comprar algo, junte o montante primeiro. Quarto, aplique pelo menos 10% de toda sua renda, não importando de onde ela venha. Quinto, só compre o que lhe dê renda, pague pelo que põe dinheiro no seu bolso. Por último, Maria, sorria, pois o resto é consequência. Pense nisso, mas pense agora!
Saulo Gouveia é consultor financeiro e organizacional, e atua oferecendo novos significados para viver as virtudes em abundância. Articulista de A Gazeta, escreve neste espaço aos domingos.