Certo dia uma apresentadora deu uma entrevista e falava das dificuldades de relacionamento com seu chefe dono de uma rede de TV. Ela sempre levava sugestões e solicitações ao dono e percebia que era interpretada como atitude de ingerência em atribuições dos outros. Pensava que estava colaborando para melhoria dos produtos.
Assim como ela, muitas pessoas tem dificuldades em relacionar-se com seu chefe. E o pai de todos os motivos é a possessão. Segundo o dicionário possessão designa o desejo de domínio, pessoa obcecada com a vontade de posse. As manias que descrevo abaixo são todas derivadas da possessão.
Às vezes é posse das ideias. Somente ele pode ter ideias, apenas ele deve brilhar. Como todo ser humano é criativo e tem condições para fazer algo melhor, desde que esteja motivado para isso, então entra em campo o chefe dominador. Utilizando a tática de reter tudo para pensar, segurar tudo para depois.
Outros chefes têm a síndrome do “manda quem pode, obedece quem tem juízo”. Esse não consegue ouvir seus colaboradores. Quando marca uma reunião somente ele quem fala e quando os outros opinam a palavra final tem de ser dele. Esse tipo de chefe tem medo de perder o poder. Pensa que poder é sinônimo de mandar. Então precisa comandar o tempo todo.
Existe também o chefe “vampiro”. É aquele que suga o sangue dos colaboradores todos os dias. Não dorme no ponto, está sempre rondando o ambiente de trabalho para ver se tem alguém desocupado para chamar a atenção. Aumenta as tarefas e fica até mais tarde na empresa para ver quem trabalha mais.
Às vezes ele sente-se “dono” do funcionário, chegando ao ponto de querer estar presente na vida dele até nas horas de folga. Então passa a abordá-lo quase o tempo todo. Têm dias que o funcionário acabou de sair do trabalho e o celular toca, quem é? O Chefe. Para ver o que? De cada dez vezes, uma é realmente séria e não poderia ficar para depois, as outras nove vezes estão a serviço da sustentação da psique chamada “controle”.
Nesse ambiente ser um funcionário colaborativo vai gerar muita confusão, pela resistência. Se você deseja permanecer no emprego é preciso saber lidar com a cultura de sua empresa e descobrir formas de tornar bem-vindas suas sugestões, colaborações e contribuições. A apresentadora, referida no início, quando percebeu as trombadas de frente com o patrão, mudou e mesmo discordando, respeitou o que existia e trocou o jeito de contribuir.
Os chefes possessivos exploram o fato de o medo das consequências negativas serem maiores do que a própria consequência. Então se prepare para emergências, seja coerente, fale pouco, elogie-o nas boas ações e de vez em quando deixe-o de castigo. Pense nisso, mas pense agora!
Saulo Gouveia é consultor financeiro e organizacional e atua oferecendo novos significados para viver as virtudes em abundância. Articulista de A Gazeta, escreve neste espaço aos domingos. saulogouveia@seubolso.com.br ou www.seubolso.com.br.