Cartão de crédito na mão é vendaval na vida de um sonhador. Quanta gente aí se engana e cai da cama com toda a ilusão que sonhou. E a grandeza se desfaz. Mas é preciso viver, e viver não é brincadeira, não.
Da música do Paulinho da viola troquei o “dinheiro na mão” por “cartão de crédito na mão” para ilustrar a mudança de quem tem dinheiro na mão fica com dó de gastar, mas já com o cartão magnético a situação muda e, facilmente, lá se vai o dinheiro como num vendaval.
Quantas vezes fazemos compromissos conosco mesmos, dizendo: – Este mês nada de gastar além do programado. E quando menos esperamos estamos diante da visão tentadora do objeto desejado. Ele brilha e reflete dentro de nós a vontade irrefreável. Qual o valor? Diz o vendedor – somente uma ninharia. É muito, pensamos, mas ai vem a frase mortal: – Fazemos em 6 vezes no cartão. Já fisgou.
Aconteceu com um cliente meu. O seu laptop ainda teria uns dois anos de condições para atender as suas necessidades. E no seu projeto de independência financeira todo dinheiro que economiza vai para investir. Mas chegou o dia fatal. Como se no íntimo ele já previsse que isso iria ocorrer, foi atraído pela presença dele. O novíssimo e atualíssimo notebook. Com todas as novidades atraentes. Windows, câmera e filmadora acoplada, mouse vira calculadora. “Ai! Quatro mil reais é muito”.
A frase fatal chegou da voz suave e melodiosa da atendente – Faço em seis vezes no cartão, a ainda você leva isso e aquilo de brinde. Foi a gloria e a morte ao mesmo tempo. Enquanto voltava para casa sorria e chorava com o novo notebook na mão.
É quase impossível hoje resistir à enxurrada de propagandas atrativas. Tudo é preparado para convencer os consumidores de que com as prestações se pode tudo. Além disso, são tantos os desejos – disfarçados de necessidades – que se transformam em uma roleta russa. Qual é a bala da vez?
O meu cliente nunca teria coragem de sacar do bolso quatro mil reais, mas passar o cartão numa maquininha e receber um boleto com as inscrições: “em 6 parcelas – financiamento pela loja”. Ora, foi aí que quatro mil viraram 666 reais. O novo valor é mensal, mas traz a mesma sensação de ter ganho um desconto grande.
Como na música do Paulinho da viola: “Viver não é brincadeira, não”. E a grandeza se desfaz na vida de um sonhador. Justamente quando mais se quer economizar caímos em armadilhas, tão irresistíveis que, depois se cai da cama com toda ilusão que sonhou.
Os resultados financeiros são frutos de como ganhamos, como gastamos e como investimos nosso dinheiro. Frequentemente damos muita importância ao quanto ganhamos e descuidamos dos gastos e de investir. Pense nisso, mas pense agora.
Saulo Gouveia é consultor financeiro e organizacional e atua oferecendo novos significados para viver as virtudes em abundância. Articulista de A Gazeta, escreve neste espaço aos domingos. saulogouveia@seubolso.com.br ou www.seubolso.com.br.