Mary chamou sua mãe para ir ao cinema. Queria divertir-se e escolheu um bom filme. Era um domingo de sol brilhante convidando para sair de casa. Mal sabia ela que seu passeio iria se transformar em uma aventura amorosa. Nem passava pela sua cabeça um caso de amor.
Lá foram as duas, mãe e filha, ao shopping. Compraram as entradas e para aguardar o horário do filme foram passear distraídas olhando as vitrines. A cada nova loja que viam se deslumbravam com tantas coisas bonitas e atrativas. Roupas, jóias, perfumes, tudo lindo e bem exposto para o “saborear” dos olhos atentos. Foi então, que ela deparou-se com “ele” pela vitrine da loja de calçados. Atraente, altivo, sensual, forte, imponente, único, e com um jeitinho de fazer qualquer mulher ficar caidinha. Quanto mais ela olhava, tinha a impressão que ele a fitava convidativo. Quanto mais tentava sair dali, mais queria ficar, e nesse vai ou fica decidiu entrar na loja.
Afinal, experimentar um sapato lindo destes não faz mal. “Vou apenas provar, já que meu orçamento não permite mais gastos neste mês”- pensou. Já tinha gasto toda verba desse item até o fim deste ano. – Vou experimentar rapidinho e vou-me daqui, afinal, as vendedoras já estão acostumadas com clientes que “derrubam as prateleiras” e depois não levam nada, refletiu. – Traga-me aquele exemplar maravilho da vitrine para eu ver – pediu ela. Aquele moreno? – inquiriu a atendente. – Sim, rapidinho, antes que alguém o pegue – justificou Mary.
Maravilhoso e caiu direitinho em seus pequeninos pés. Lá fora começava a chover. – Qual é o preço? – perguntou com receio. – R$ 221,00 – respondeu a atendente. – Meu Deus! Estou frita! Não posso levar, você tem algum parecido com esse, de menor valor? replicou, já com sentimento de perda. – Sim. E lá se foi e a atendente, e voltou com uns seis pares de sapatos. No fim Mary saiu da loja com o seu “príncipe encantado” e mais dois outros coadjuvantes de menor valor. Entrou no cinema e logo começou a chorar. Todo mundo pensando que era pelo filme romântico, mas era de arrependimento.
Um caso de amor. Quem nunca teve igual? Quem nunca se “apaixonou” por alguma coisa e levou para casa, para depois ficar desapontado consigo mesmo? A maioria dos normais já fez isso. O que fazer? Simplesmente inverter a situação. Isso mesmo, inverter o processo. Primeiro você separa quanto pode gastar. Depois define o que vai comprar. Se for sapato, não olhe outras coisas, esqueça as roupas, cintos etc., mire-se nos sapatos e somente veja sapato na sua frente. Quanto mais coisas para decidir, mais conflito mental de decisão. Definido o valor e o que vai comprar, agora defina o tempo adequado que lhe permita ir a pelo menos umas cinco lojas, mesmo que precise ir a dois shoppings ou locais diferentes.
Definido o valor, o que vai comprar e o tempo, saque o dinheiro no caixa automático. Isso mesmo, dinheiro vivo, para conseguir mais descontos e evitar gastar mais. Feito isso, agora é hora de pesquisar, divertir-se. Faça dessa compra um ritual alegre e feliz. Evite angústias e ansiedades desnecessárias. Sinta prazer em entrar e sair das lojas dizendo que vai pensar. Na sua mente já está definido: Só comprar depois que for às cinco lojas.
No final, certamente que saberá quais os mais bonitos que encaixam em seu dinheiro, e não o contrário, tentar fazer o dinheiro encaixar nos sapatos. E provavelmente, comprará mais sapatos e com qualidade para durar até esse caso de amor esvair-se e você precisar de outra aventura.
Ah, já ia me esquecendo, se programou ir ao cinema ou ao restaurante, então esqueça as lojas. Pense nisso, mas pense agora!
Saulo Gouveia é consultor financeiro e organizacional e atua oferecendo novos significados para viver as virtudes em abundância. Articulista de A Gazeta, escreve neste espaço aos domingos. saulocarvalho@seubolso.com.br ou www.seubolso.com.br.