Em uma fria manhã de inverno, o sábio reuniu os jovens da aldeia e, diante deles, levou ao fogo uma panela com água. Enquanto a água esquentava, estendeu uma esteira no chão e depositou sobre ela três vasilhas de barro vazias. Quando a água começou a borbulhar, quase a cem graus, o sábio a derramou na vasilha que estava à direita. Em seguida, colheu do riacho água gelada, quase a zero grau, e a entornou na vasilha da esquerda. Na vasilha do meio, despejou água fria e quente, em partes iguais. Diante da curiosidade dos jovens, o sábio ordenou a um deles: – Coloque a mão direita na água bem quente e a esquerda na água gelada. Depois de alguns instantes, mandou que o jovem retirasse as mãos de onde estavam e as colocasse na vasilha do meio.
– O que está sentindo? Perguntou o sábio. Surpreso, o jovem respondeu que sentia calor em uma mão e frio na outra. Na mão em que sentia calor era porque, para ele, a água da vasilha do meio estava quente. Na mão em que sentia frio era porque, para ele, a água da vasilha do meio estava fria. E era a mesma água.
Também me lembro de um amigo que ganhou uma promoção no trabalho. Quanta alegria, quanta animação. Seis meses depois, lá estava ele frustrado, o “reclamão” de sempre.
Nesta semana estive com um cliente, que há dois meses passou por um revés em sua vida que parecia que o mundo ia acabar. Era sério, mas na época ele tinha a impressão que era permanente. Agora olhando, nem se lembra do que ocorreu e já leva a mesma vida de sempre.
Qual o motivo das pessoas tenderem a voltar ao padrão emocional e aos mesmos hábitos depois de algum tempo? Se forem negativistas, não param nunca de reclamar, se são otimistas, mesmo após situações dolorosas, persistem com convicção nos valores da vida. Ocorre que não são as situações em si que nos tornam melhores, e sim, o que aproveitamos e extraímos de aprendizados delas que nos favorecem o crescimento moral. Não é a soma de quantas situações desagradáveis e/ou agradáveis que a pessoa passou, que a elevará ao patamar de ser virtuosa, e sim a disposição em exercitar mudanças de hábitos, tornando-os saudáveis, que a levará ao crescimento.
Não será pelas alegrias ou sofrimentos que desenvolveremos valores, e sim pelas ações em busca de não viver o mal, já que o que ocorre conosco não é CONTRA NÓS e sim PARA NÓS, ou seja, para o nosso bem.
Precisamos aprofundar raciocínios reflexivos sobre todos os momentos enriquecedores que passamos, sejam felizes ou tristes. Todos eles passam céleres e deixam para nós as conquistas, se assim, nos permitirmos aproveitar.
É necessária uma vontade profunda em querer ser feliz e daí agir com autocuidado para buscar essa plenitude passo a passo, dia a dia. Aqueles que escolhem levantar, trabalhar, comer, divertir-se, dormir, todos os dias, sem daí extrair aprendizado, que somente vem por meio do esforço e dedicação, correm pela vida com riscos enormes de cair nas armadilhas da depressão.
Sempre sentiremos confiança na vida, em nós e no que virá, se nos dispormos a ver com gratidão, aceitar a existência como ela nos apresenta, para agir com disciplina na busca da felicidade. Quente ou frio, depende de como a sua mão está. Da mesma forma, o mundo pode ser bom ou ruim, depende do que cada um traz dentro de si. Pense nisso, mas pense agora.
Saulo Gouveia é consultor financeiro e organizacional e atua oferecendo novos significados para viver as virtudes em abundância. Articulista de A Gazeta, escreve neste espaço aos domingos. saulogouveia@seubolso.com.br ou www.seubolso.com.br.