A granja dele estava com baixo rendimento. Foi então que ficou sabendo de um consultor que era chamado de “mágico”. O “mágico” escreveu algo em um pedaço de papel e colocou em uma caixa. Fechou-a e entregou ao granjeiro dizendo-lhe:
– Leve esta caixa por todos os lados da sua granja, três vezes ao dia, durante um ano.
Assim fez o granjeiro. Pela manhã, ao ir ao campo segurando a caixa, encontrou um empregado dormindo no serviço, chamou-lhe a atenção. À tarde, foi ao estábulo, encontrou o gado sujo e os cavalos sem alimento. À noite, indo à cozinha com a caixa, viu que o cozinheiro estava desperdiçando os gêneros. Durante um ano, todos os dias, ao percorrer sua granja de um lado para o outro com sua caixa-amuleto, encontrava coisas que deveriam ser corrigidas.
Terminada a tarefa anual solicitou ao “mágico” que deixasse o amuleto por mais um ano com ele na granja, já que a empresa tinha melhorado em muito o rendimento. O “mágico” abriu a caixa e sorrindo, disse-lhe: – Pode ter esse amuleto pelo resto da sua vida. Veja o que está escrito no papel: “Se quer que as coisas melhores, você deve acompanhá-las constantemente”.
Especializei-me em recuperar empresas com problemas ou francamente falidas. Além de sugerir a solução “mágica” de nossa história, prescrevo a aplicação de algumas regras de ouro para qualquer tamanho do “buraco” e da empresa. Pode ser uma pequena empresa, média ou grande, a regra vale para todas elas.
A primeira delas é segure o dinheiro que entra. Agarre-o com firmeza e não deixe ninguém tomar. Use-o apenas para despesas operacionais e insumos. Cada centavo que entra vale ouro se colocado aonde ele vai se multiplicar. Se for gasto com uma despesa extra nunca mais volta, se for com insumos ou mercadoria, ela será vendida e multiplicar-se-á o montante. Outra ação é aumentar o dinheiro em caixa vendendo todos os ativos não essenciais, e que não geram caixa. Todos os dias acorde de manhã pensando nisso e vá dormir sonhando com isso.
A próxima regra é reduza as despesas. Corte tudo que não fizer diferença nas vendas. Até seu salário e dos outros diretores. Corte. Seja corajoso corte agora para assegurá-lo mais tarde. Não vacile nessa empreitada, fazendo uma análise em cada linha de seu demonstrativo de lucros. Divulgue por toda a empresa e peça a colaboração de todos aqueles que de alguma forma tem poder de gastar algo.
A terceira regra é comprar bem. Comprar mercadorias para revenda ou insumos para indústria é uma arte. Não adianta comprar muito para não faltar, é preciso comprar pouco e sempre. Pechinche, pechinche até conseguir o melhor preço dentro do maior prazo. Estique o prazo de pagamento o máximo que puder, sem pagar mais por isso. Peça aos fornecedores para ajudar na recuperação.
A quarta regra de ouro é vender bem. E vender bem é saber precificar para obter boas margens com bom giro e gerar o lucro ideal para a alavancagem da empresa. De nada adianta girar muito, se a margem de lucro é insuficiente, mas de nada adianta também a margem alta se não girar o estoque. Por isso, poucos conseguem seguir esta regra, porque é preciso ser um campeão para superar esse desafio.
A quinta e última regra é receber bem. De nada adianta comprar bem, vender bem e não receber. Nada de vender para qualquer um. É melhor o produto na sua empresa do que nas mãos de quem não tenha como pagar. Conheço empresas que os recebíveis são como palha, se apalpar não sobra nada. Querem vender a qualquer custo e entregam suas mercadorias para nunca mais ver a cor do dinheiro.
A lucratividade é o objetivo financeiro número um porque ela viabiliza todas as outras coisas. Segure o dinheiro, corte despesas, compre bem, venda melhor ainda e somente para quem pode pagar. O resultado é consequência. Há! Apague as luzes ao sair. Pense nisso, mas pense agora.
Saulo Gouveia é consultor financeiro e organizacional e atua oferecendo novos significados para viver as virtudes em abundância. Articulista de A Gazeta, escreve neste espaço aos domingos. saulocarvalho@seubolso.com.br ou www.seubolso.com.br