Depois de dez anos de estudos, um discípulo achava que já podia ser elevado à categoria de mestre. Ao entrar na casa ele lhe perguntou: – Você deixou seu guarda-chuva e seus sapatos do lado de fora?
– Evidentemente – respondeu o aprendiz. – é o que manda a boa educação e o nosso costume. Eu agiria dessa maneira em qualquer lugar. – Então, diga-me: você colocou o guarda-chuva do lado direito ou do lado esquerdo dos seus sapatos? – Não tenho a menor ideia – respondeu o rapaz.
E o professor disse com toda segurança: – Para ser mestre você precisa ter a consciência total do que faz. A falta de atenção pode destruir por completo a vida de um homem. Um pai que sai correndo de casa nunca pode esquecer um punhal ao alcance do seu filho pequeno. Um guerreiro que não olha todos os dias a sua espada terminará encontrando-a enferrujada quando mais precisar dela. Um jovem que se esquece de dar flores à namorada acaba por perdê-la.
Hoje vivemos uma demanda de atividades superiores à nossa capacidade. Somos pais, mestres, aprendizes, profissionais de sucesso, amigos e voluntários em ações do bem. Em cada papel, uma função, em cada função, múltiplas necessidades e escolhas.
Tínhamos, em um passado próximo, dias para decidir algo importante, hoje a cada minuto temos algo crítico a definir. E, ao invés de atenção concentrada para fazer as melhores escolhas, somos interrompidos a cada 10 minutos por alguém, um telefonema, uma mensagem instantânea ou um e-mail. O problema é que após a abstração que traz essa interrupção levamos meia hora para retomar o ponto em que havíamos parado.
Outra dificuldade é o medo e a insegurança de ficar desplugados – do WhatsApp, Skype, e-mails, etc. – de sair fora da rede (web) e perder algo importante. Ocupamo-nos simultaneamente com algo prioritário e ficamos a escanear a periferia, para que, caso algo aconteça, não percamos a oportunidade. Lidamos com múltiplas frentes, de forma totalmente superficial, sem reflexão e profundidade.
Buscamos a eficácia, mas já não estamos focados naquilo que realmente interessa. O que nos rodeia afasta-nos da concentração e nos estimula a reagir. É quando um cliente – aquele que viabiliza tudo na empresa – liga e nós consideramos uma interrupção, um estorvo.
A atenção é o nosso recurso mais escasso e valioso. É o nosso tempo – e não nosso dinheiro – a coisa mais preciosa que possuímos. Por isso, se você não puder controlar seu tempo, controle sua ENERGIA.
Busque a concisão e a objetividade nas comunicações. Não se prenda às mil coisas que você vai ter que fazer em algum tempo futuro, mas à única coisa que você pode fazer agora. Se for um planejamento foque-se nele. Se for um estudo mire-se profundamente nele. E evite os “filmes mentais” projetando o futuro e outras necessidades mais, perdendo o poder da concentração no agora.
Faça um planejamento de seus compromissos e de sua agenda. Crie espaços para diálogo, para telefonemas e principalmente momentos para produzir com atenção profunda. Quando tiver falando com alguém mire-se nesta pessoa e dê cem por cento de sua atenção a ela. Quando tiver analisando um relatório concentre-se nele integralmente.
Quando o indivíduo está concentrado em algo, envolvido, mergulhado profundamente no que está fazendo, é repousante, relaxante e faz a pessoa feliz. Pense nisso, mas pense agora!
Saulo Gouveia é consultor financeiro e organizacional e atua oferecendo novos significados para viver as virtudes em abundância. Articulista de A Gazeta, escreve neste espaço aos domingos. saulogouveia@seubolso.com.br ou www.seubolso.com.br.